A história do Projeto de Educação do Assalariado Rural Temporário (PEART)



Este é o Sr. Zenildo Megiatto, preclaro pároco da paróquia São Pedro do Ivaí Apóstolo, no deslinde dos anos 1990 à 2009. Nesses 19 anos de valorosos labores prestados ao povo sãopedrense e à toda a humanidade, Zenildo logrou êxito em suas realizações, formando uma comunidade crítica, capaz de questionar o poderio político e empresarial que dominava a região.
Na cidade de São Pedro do Ivaí, Zenildo arquitetou e fez colocar em prática o Projeto de Educação do Assalariado Rural Temporário (PEART), esta iniciativa nasceu em uma de suas visitas à Destilaria Vale do Ivaí, poderosa indústria de açúcar e álcool do sul do Brasil, na ocasião de um trabalho à Comissão Pastoral da Terra (CPT) que identificou cidadãos iletrados em meio ao longínquo vazio demográfico inserto entre as lavouras de cana de açúcar desta região, ambiente este propício para a exploração da mão de obra humana.
Ativo e imbuído no dever moral de levar conhecimento técnico-jurídico àquela população obreira, Zenildo ministrou diversas palestras e reuniões com o objetivo de inspirar naqueles cidadãos a busca incessante da justiça.
Certa feita, ao distribuir informativos que discorriam sobre legislação trabalhista, muitos, assustadoramente, recusavam o mesmo... O motivo? Eram analfabetos! Não tinham condições de, naquele momento, analisar a mensagem que Zenildo desejava repassar a eles. De cada 10 pessoas somente duas delas aceitavam o informativo.
Diante dessa constatação aterradora Zenildo procurou fazer levantamentos sobre o índice de alfabetização nos municípios do Vale do Ivaí no Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), órgão oficial do governo do Paraná. O resultado não poderia ser pior: em São Pedro do Ivaí, 40% dos eleitores que votaram na eleição para presidente do Brasil em 1989 eram analfabetos; em Bom Sucesso o número chegava a 50%; em São João do Ivaí a 53% e em Lunardelli a incríveis 66%. Acrescente-se ainda que a maioria desses trabalhadores não possuía documentos nem carteira de trabalho assinada. Além disso, trabalhavam aproximadamente 12 horas por dia e estavam expostos às condições de trabalho sem segurança alguma. Quando tinham sorte conseguiam ganhar R$ 3,00 (três reais) por um dia inteiro de trabalho colhendo milho, algodão ou cortando cana de açúcar.
Numa reunião com os integrantes da CPT surgiu a ideia da implantação de um projeto pioneiro de Educação para atender especificamente às necessidades deste povo que, além de serem excluídos da sociedade, nunca tiveram a oportunidade de estudar. Nascia, então, o PEART (Projeto de Educação do Assalariado Rural Temporário) que, através de inúmeras negociações com o Governo do estado (na administração de Roberto Requião) e com o secretário de educação (Elias Abraão), foi firmado um convênio abrangendo também com o PEART também as regiões Norte e Noroeste do Estado.

O objetivo do PEART não era só alfabetizar. O objetivo também era resgatar a cidadania, abrir novos horizontes e, como era de se esperar, despertar o senso crítico para que eles pudessem se autovalorizar e ser protagonistas de sua própria história. Esse trabalho permaneceu de 1993 até 2004 e teve grande sucesso em toda a região. Passaram por ele mais de 50.000 alunos entre jovens e adultos, sem esquecer também o exame de equivalência com os certificados devidos para que eles pudessem dar continuidade aos estudos.

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